terça-feira, 23 de setembro de 2008

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Hoje irei postar um conto magnífico que encontrei em um blog. A autora é Flávia Donadelli.
Para aqueles que sentem na pele sampacaos...


Cordéis da retirante sertaneja

São Paulo te observa, te cutuca, te revolta.

São Paulo te maravilha, te apavora, te odeia.

20 milhões de habitantes disputando a sua mesa, o seu banco de ônibus, o seu elevador.

Pisoteadores de ruas. Gafanhotos em caixas de fósforos.

240 vizinhos, além do morador do viaduto ao lado e tudo que conheço deles é a irritação que me causam. Cada gafanhoto em sua caixa, cada caixa em seu caixote. São Paulo te abarrota, São Paulo te odeia.

Não tem brisa do mar, mas tem água de côco. Não tem animal, mas tem muito bicho. Tem lugar pra ir? Eu só não sei chegar. Nem ia dar tempo mesmo...

Vamos aprisionar as árvores nos parques municipais, vamos aprisionar pessoas nas caixas de concreto e podemos estragar o resto, cuspir no chão, quebrar os vidros.

Não tem montanha mas tem chalé e chocolate quente. Tem lareira, frio, calor, sorvete e neve em 24 horas.

Me vende um quilo de equilíbrio por favor? Vcs entregam em casa? Que ótimo!

7 empregos por semana. 24 lugares novos por dia. 60 olhares em um minuto.


Passou do ponto. Preciso descer.



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Digo ã autora, que seu conto me fez pensar sobre a poesia das ruas perdida, sobre os diários de retirante escritos no tédio do dia calorento, a cidade modorrenta.
E o que fazer com tudo isso? Entramos na faculdade e desatamos a escrever relatórios científicos.


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segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Tempo, Tempo...

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Ah, como eu queria ter um pouco mais de tempo para postar aqui uma nova descoberta literária... é o ganhador do prêmio sesc 2007, mais um destes ótimos escritores brasileiros contemporâneos com os quais tenho me deliciado. Mas não quero falar dele às pressas, oremos para que surja um tempinho para a boa exposição do literato.
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Ahhhh mas não posso me esquecer de mostrar o meu mais novo herói: Seyymooouurrrr!!!

Seymour, o cara mais da hora de todos os tempos. Seymour, eu quero ser sua vizinha.


Mais fotos aqui:
Breves explicações:
Filme.
Ghost World.
Coleções.
Bom blues.
Vinis.
Meu tão amado mundo cão norte-americano.
Sim, sim!! Dêem-se as mãos a Bunker Hill e temos mais uma constatação da única and peculiar paranóia social U.S.A.
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Enquanto isso, continuo com umas babaquices.

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Quarta-feira ele vem. É por isso que lavo a pilha de pratos na pia. Quarta feira ele vem. Guardo os livros nas estantes, tiro o pó dos poucos móveis. Deito água pela casa, passo panos e alvejantes pela sala, porque quarta-feira ele vem. Frito batatas, fico com fome porque quarta-feira ele vem. Danço pelo quarto, preparo nossa cama com lençóis novos, brancos, recém-saídos da lavanderia. Passo o resto da semana indo ao cinema, usando as saias que mais gosto, observando as pessoas da rua, deliciando-me com leituras, esperando a quarta-feira.
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Ironia: estarei eu virando Amélia?!

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Hoje ela estava dark, como se numa ressaca depois de alguma espécie de rave de 3 dias e 3 noites, daquelas que as pessoas usam tantas drogas que já nem sabem mais o que está acontecendo, e quando tudo acaba, não fazem a mínima noção do sentido de tudo. Comprimentou pessoas duvidosas pelos corredores, uma galera Zé-droguinha da pesada. Achei tudo muito estranho. Ela, que antes era todo o alto-astral com seus vestidos coloridos e a sensualidade à flor da pele, me aparece agora envolta por alguma espécie de áurea arroxeada. Enquanto penso no clima pesado gerado pelo ônibus da moradia ou pelo uso exacerbado de cocaína com pessoas do mal, eu vou de Led Zeppelin:

Oh war is the common cry, Pick up your swords and fly. The sky is filled with good and bad that mortals never know. Oh, well, the night is long, the beads of time pass slow, Tired eyes on the sunrise, waiting for the eastern glow.

Oh Deus, como essa música pode ser tão boa?!

síndrome de múltiplos orgasmos musicais.

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quinta-feira, 11 de setembro de 2008

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"O que é massa?"
O LHC poderá responder a uma simples questão: O que é massa?

"Sabemos que a resposta será encontrada no LHC", disse Jim Virdee, físico do Imperial College de Londres.

O acelerador de partículas salvará, enfim, um dos grandes entraves da teoria marxista!!

Imaginem só quantos mistérios poderão ser desvendados no fabuloso acelerador de partículas... debates althusserianos e até questões gramscianas poderão encontrar agora seu happy êndi? Oremos.

sábado, 6 de setembro de 2008

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Itirapina é uma cidade minúscula, ilustrada por um pontinho preto perdido no meio do mapa do estado de São Paulo. Aqui, a lógica é a do "um de cada": temos uma loja de calçados, uma loja de esportes, uma loja de cds, uma boticário, uma loja de roupas masculinas, uma loja de roupas femininas, uma loja de bebês, uma farmácia de manipulação, uma farmácia comum, e com Itirapina entrando na era da modernidade há pouco tempo, uma loja da vivo, uma da claro, e uma lan house.




Os assuntos que permeiam toda a sociabilidade cotidiana - e dão sentido a elas - são sobre relacionamentos. Quem casou com quem, quem teve filho com quem, qual é o divórcio da semana. Quando vão falar de alguma outra coisa, como por exemplo uma reportagem sobre a Itália que saiu no jornal local, falam em termos de parentesco: a filha de fulana casada com sicrano que foi neto do beltrano que estudou com a minha vó no colégio foi para o Canadá. A informação após o verbo quase nunca interessa, o que interessa é que o grupo de interlocutores descubra qual é o sujeito do qual se está falando: quem, aquela que casou com o fulano filho do dono da farmácia que ficou viúvo e depois foi morar naquela casa ali do centro? Não, essa é a filha mais velha, a que te digo é a filha mais nova da fulaninha que aliás é cunhada do pai do seu sogro! Tudo isso falado em volta da mesa do café da manhã, do almoço e do jantar, que duram uma eternidade e preenchem o tédio dos dias de Itirapina.
É assim como na foto. E me smell like a faroeste norte-americano de 1930. Então fico a ouvir blues com whisky e bukowski, ótimas companhias.